ossonha

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Memória musical

Depois de uma conversa capciosa com ela, decidi escavar meu passado em uma espécie de auto-psicanalise provavelmente influenciada pelas ultimas leituras freudianas que tenho feito. Independente do motivo de tal busca, vamos ao objetivo da mesma.

Em tal discussão debatíamos sobre uma diferença de hábito que temos. Ela ao chegar cansada ao fim da tarde, com a mente exaurida e o corpo mole agrada-se com o mais pleno silencio na casa vazia, o silencio por excelência, nem mesmo o canto dos passarinhos ou o arfar do vento, e depois de um bom descanso à calmaria. Para então depois se reanimar aos afazeres seja quais forem e então permitindo a quebra do silencio.

Eu, por outro lado, estando sob as mesmas condições psicológicas e físicas, ao buscar paz e sossego ao invés de um momento de silencio do mais puro, eu tenho uma preferência é em por do mais alto e clássico rock’n’roll isso varia entre sons do gênero de Dire Straits e AC/DC incluindo afluentes. A sensação que me dá não é de agitação ou reanimação das células, mas assim como ela, uma calmaria da mais sossegada, daquela em que teu corpo se desfaz na cama/cadeira/sofá/seja-lá-onde-for que você estiver e junto com um sorriso seus olhos se fecham e a calmaria reina. Com muitas guitarradas. Quanto mais alto o som, mais eu relaxo. As vezes durmo profundamente e acordo babando. Sinto-me algum tipo de hippie falando uma coisa dessas, mas a sensação que me dá também é mais ou menos o seguinte: a música aos poucos entra pelos meus ouvidos e toda a pele, circulando pelo meu corpo e pulsando dentro de mim, consigo até imaginar umas cores das ondas que enriquecem e relaxam o meu corpo (sim parece que sou um louco de rave), me dá muita liberdade e alegria.

Pensando sobre isso fui buscar alguma razão para tal, assim como eu acredito que há para tudo uma explicação, ou um pedaço de explicação. Freud fala muito de traumas de infância, concordo um tanto com isso, porém nem todo trauma é uma coisa ruim que aconteceu, digamos que há traumas bons, alguma coisa que te fez feliz quando era pequeno e até hoje você tem mania de fazer algo que induza a tal coisa. Perfurei minha mente até encontrar o meu trauma bom em relação a música, percorri toda minha memória musical.

Eu nasci em 1988, morei em uma casa ao lado da rodoviária da minha cidade até meados de 1995, minhas primeiras lembranças são dessa época, não consigo definir ao certo que idade eu tinha, mas no máximo eu devia ter 7 anos, 6 na verdade já que faço aniversário em novembro. Meu pai conta que quando eu ainda estava na barriga da minha mãe ele colocava Beethoven e Mozart para tocar no som, em um bom e alto volume. Lembro naquela casa que às vezes ele fazia isso, era gostoso. Outra boa lembrança era quando meus pais saiam à noite e ficávamos apenas eu e minha irmã, ela gostava de Xuxa, então colocava um discão na vitrola, e eu e ela vestíamos calça de moletom e meias, a música da Xuxa era mais um incentivo rítmico para a nossa brincadeira de sair correndo e escorregar com as meias no corredor liso e encerado que tínhamos na casa. Não me lembro de minha mãe nos xingando por esfarraparmos nossas calças com isso, mas lembro da diversão que era, e quando tocavam musicas com partes um pouco mais calmas como “Lua de Cristal” a brincadeira se tornava mais calma e até chatinha, tínhamos que esperar vir aquela “é canja é canja, é canja de galinha” para nos reanimarmos, eu ficava exausto depois de tanta correria.

Na mesma casa houve uma época em que meu meio irmão morava com nós, ele é dez anos mais velho que eu, logo devia ter por volta de uns 14 à 16 anos acredito eu. Ele gostava de rock’n’roll, meu pai também gostava, sempre ouviu muito Beatles, mas meu irmão era quem curtia mais, ele também gostava muito de pop (saudade do bom pop) estilo Michael Jackson e Madonna, eu lembro que ao som ou de um rock ou de um pop, ele me pegava e me girava e me jogava para os lados, dançava comigo e até fingia que ia me beijar (nessa hora eu como uma boa criança heterossexual me desesperava, mas ele tapava a minha boca com a mão dele e beijava as costas da mesma, que susto). Essa lembrança é uma das melhores, a música era altíssima e a diversão também, eu não tinha nenhum controle do meu corpo, se ele me soltava acho que eu me estabacaria, sorte que nunca fui traumatizado assim. Lembro que tinham vezes que ele me fazia rir e eu não parava nunca mais, e mesmo assim ele me girava e me jogava para os lados, e eu rindo muito mesmo nessas vezes sem o mínimo controle mesmo!

Todas essas memórias são por influencia direta de alguém, por conta própria eu lembro que eu gostava (meu passado me condena) da musica do pintinho amarelinho do Gugu, na verdade eu gostava muito era do bonequinho de pintinho que vinha com o disco, que era azul e pequeninho, bem legal, acho que eu cheguei a questionar porque o disco era azul se o pintinho era amarelinho... pelo menos na minha memória era azul. Mas eu logo enjoava dessa música e colocava um rock de verdade.

Alguns anos mais tarde morávamos em um apartamento isso foi entre 1995 e 1998, nessa época já tínhamos um aparelho que tocava CDs. E toda a tarde, meus pais iam trabalhar e eu ficava sozinho em casa, esse era o momento perfeito, em um volume exorbitante que nem hoje eu agüento, eu colocava coisas como Dire Straits e Bruce Springsteen. Com isso eu dançava muito sozinho e detonava em air guitars solos destruidores, até uma vez presenciei uma tacinha de cristal explodindo com um solo nervoso de guitarra onde eu tive a coragem de aumentar mais ainda o volume. Os vizinhos deviam me odiar. Mas eu era felicíssimo com isso tudo.

Depois foi a perdição, comecei a me interessar mesmo por musica, nos mudamos pra uma casa onde passamos a assinar DirecTV isso nos dava zilhoes de canais de TV, então minha programação televisiva que até os 10 anos era só de desenhos animados foi contaminada (literalmente) com MTV e mais desenhos infinitos e alguns seriados. Com a MTV eu podia não só ouvir as músicas, mas também ver elas e saber sobre o que elas eram e seus respectivos artistas, comecei a consumir CDs, e ouvia de tudo que passava naquele canal maldito, isso incluía muito Pop, eu peguei o auge das Boybands o Rock’n’roll clássico foi deixado para trás por causa de muito pop contemporâneo, comprei até um álbum da Britney Spears (Baby one more time) e dois da Cristina Aguilera, vi a Aguilera virar vadia, depois a Britney, nesse tempo eu já tinha trocado uma droga por outra... Rap e Hip Hop, o bom disso tudo é que eu não me contentava com o que passava na TV, eu tinha que saber sobre os artistas, o que eles cantavam e porque, o que queriam dizer com as músicas e impacto social e as suas referencias. Por isso agradeço a mim mesmo por essa maneira investigativa de ouvir música, pois assim eu consigo ouvir algum hip hop e dizer que é uma merda, consigo gostar de umas coisas antigas como Public Enemy e Run DMC, no Pop respeto o MJ e a Madonna entre outros.

Quando eu estava com uns 13 e 14 anos, comecei a sair e ir a festas, eu não bebia, sempre fui bem certinho, diria um bom cristão... Se eu não fosse ateu nessa época. Nas festas eu dançava muito, sem vergonha alguma, mais uma vez provavelmente pelas influencias dançarinas que eu tinha desde a infância, minha irmã à propósito fazia aula de dança também, aquele negocio da musica entrar no meu corpo começou mais forte nessa época, isso que me dava ritmo mesmo desajeitado para dançar alucinado nas festas. Com 14 anos eu fui ao Planeta Atlântida pela única vez na minha vida pelo que eu lembro, a única coisa que eu bebi foi Pepsi, e eu dancei até morrer.

Apesar do gosto musical pop eu até que era bem refinado nessa questão pelo conhecimento que eu buscava. Além disso, eu jogava RPG desde 1996 mais ou menos, comecei novo nessa nerdisse graças a meu irmão. Também como um ateu em cidade pequena, minha rebeldia cresceu junto com meu cabelo. Então façamos os cálculos: RPG + Cabelo Comprido + Ateu... Qual era o próximo estilo musical a ser ouvido?

Aos que chutaram Metal... obviamente estão corretos, sim comecei já por uma vertente muito alternativa de metal, o Folk e o Viking Metal, mas depois fui pegando gosto por Death, Gore, e outras vertentes cada vez mais underground da coisa. Quem me conheceu com 7 anos já imaginava que eu teria tendência pra coisa, já que eu só usava preto, não falava com ninguém e vivia usando uma camiseta do Iron Maiden (por causa da ilustração). Já na faculdade, meu auge da metalerice inclusive nas atitudes, quando eu estava a beber pra caralho e andava com cara de mau, fui decidindo conhecer melhor as coisas que eu conhecia só a parte underground, decidi conhecer as origens do metal, fui indo pra Iron, Metallica... e chegando assim aonde?? Onde eu comecei: AC/DC, Dire Straits, Beatles Rolling Stones.

O tempo foi passando e o gosto musical, acho que refinando cada vez mais, por influencias ainda mais antigas sempre gostei de MPB e Chico Buarque, tive meus tempos de ouvir muito o gênero, pesquisar mais da musica brasileira, gosto muito de samba, bossa nova, tropicalismo, um ronquenrrou ao estilo Mutantes, Rauzito. Umas coisas contemporâneas como Rogério Skylab me abriram a mente para experimentações mais antigas como Arrigo Barnabé, Tom Zé, Fausto Fawcett, Arnaldo Antunes, Jorge Mautner, Zumbi do Mato. Ouvi muito mangue beat com Chico Science e Nação zumbi, conheci o Cordel do Fogo Encantado, Mundo Livre S/A, Mombojó... Enfim, música brasileira é o que eu mais ouço atualmente, aqui na minha playlist no momento está Ney Matogrosso, Nação Zumbi, Pato fu, Novos Baianos, Cibelle, Rogério Skylab e Maísa Moura. A lista é enorme hoje, dos mais conhecidos até alguns que poucos conhecem, procurando cada vez coisas mais boas e diferentes. Tenho buscado também um pouco mais a fundo a origem do rock’n’roll que originou o meu gosto musical. Assim como novas experimentações na musica nacional. E indo... ao infinito e além, tem muito mais. Essa é só a pontinha do Ice Berg do meu gosto musical.

Música faz parte de uma grande parcela da vida, tem uma grande importância na construção do meu ser, e faz parte de mim integralmente, em espírito e corpo, por dentro e por fora. Por isso não tem nada melhor para mim do que chegar, depois de muito trabalho e cansaço, esmiuçado da mente e corpo, completar meus órgãos com uma dose forte de rock com muito estilo. Para dar aquela paz interior eterna e sentir a vida inteira que eu tive passando pelas minhas veias de novo. Assim eu descanso, e mais tarde, revivo como a fênix. Das próprias cinzas.


Tudo culpa do CALcine @ 10:17 PM
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