O brilho dos seus olhos atravessou a penumbra e atingiu no fundo da minha cabeça, a nuca praticamente, rebateu lá, e continua rebatendo no vazio da minha mente. Aquele par de olhos escondidos pela sombra da as arvores que tapavam a luz dos postes da rua, também cintilavam os cabelos jovens e ondulados delineando o rosto pequeno e suave. Havia uma carência no jeito que ela me fitava, a vida inocente dela percebia que faltava algo no seu dia-a-dia, as conversas entre os amigos eram vazias os garotos com quem ela saía eram apenas legais, bonitos ou engraçado, mas não preenchiam o fundo daquela tristeza. Havia uma ironia no ar, uma esperança misturada a uma decepção por ter encontrado a pessoa certa no momento errado. Os olhos dela não diziam nada e mais do que nunca o silêncio valeu muito mais que mil palavras nesse momento. Fiquei tentando olhar para aqueles olhos que me paralisavam, mas eu não conseguia, desviava o meu rosto que tentava sorrir, mas estava petrificado por uma medusa solitária.
Eu fiquei ali e ela sumiu como faz a chama sozinha de uma vela ao ser soprada lentamente. Queria ter posto a mão no fogo através das grades que nos separavam, agora ele fica queimando meus pensamentos.
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Elas entram nos mesmo ônibus que eu, fingem que não olham para mim, finjo que não estou observando cada detalhe do que elas vestem e carregam, os tênis coloridos, as unhas irregulares, as calças apertadas e blusas soltas. Tentam esconder o rosto com o cabelo que não têm. Elas nunca sentam comigo, elas não dão oi. Descemos sempre nas mesmas paradas, elas vão para um lado, eu para o outro. Gostaria de pelo menos dizer tchau.
Quando que ela vai voltar? Pra sentar do meu lado e encostar a cabeça no meu ombro, me xingar quando eu encostar os dedos nos lábios, descer comigo e me acompanhar até em casa?